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Cozinhando Puros Dados





(lembrando que a proposta resume-se como uma "solda de propostas" e portanto pode servir de backbone pra outras idéias):

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Liquidificadores e Eletrodomésticos do Agenciamento Coletivo

Trabalhando em um formato de grupo aberto a participações mediadas apenas pela intersecção de buscas sociais e estéticas, que organiza suas ações por meio de convergências de redes de coletivos principalmente pela Internet, a Orquestra Organismo tem um meio de trabalho onde o processo de “solda de discursos" é colocado desde seu ínicio como o próprio “objeto" a ser realizado. Um “produto da ação destes encontros sendo moldado no tempo", onde o objeto “em cena" é a própria intenção dos indíviduos (e sua função como catalisador destas relações) buscando equilíbrio entre o grupo e sua dimensão subjetiva (além de qualquer análise social ou artística). Obras que se constroem e são esculpidas de acordo com a interação e envolvimento e que trabalham também com idéia da transformação do significado destas ações nos espaços em que ele é percebido, sendo estas moldadas pelas institucionalizações em que se inscrevem (música, teatro, audiovisual, galerias, internet, bares, lares ou ruas), mas sempre reforçando a lúcida situação em que o que fica de todos estes signos são as relações humanas que eles permeiam e estimulam.

A proposta de “Cozinhando Puros Dados" pode ser vista como continuação dos trabalhos que a Orquestra Organismo desenvolveu em suas performances/mostras mais recentes: “Desafiatlux", “A justa razão aqui delira" e teve sua genêse durante “Surface Tension@Curitiba". A idéia em comum destes trabalhos é a de que vivemos uma época de sobrecarga de informações e possibilidade de conexão de redes moldadas em discursos similares que ultrapassam fronteiras sociais e geopolíticas. Por outro lado a organização cartesiana e sistemática destes dados, para qualquer tipo de função institucionalizada (da arte à engenharia; do ativismo ao academicismo) tende a diluir-se no espaço onde ela quer tomar forma, e o fluxo de identidades que tocaram-se em subjetividade acaba perdendo a força moldando-se aos espaços, entrando em contradições e adquirindo um significado “institucional". Observar estes discursos e “dados" como uma dança caótica de entidades, em forma de rituais simbolistas, teatros da crueldade e estetização da ação direta, molda sua prática e ética numa percepção imediata da dimensão humana. Esta é a busca destas performances.

Em “Cozinhando Puros Dados" trabalhamos com uma cozinha no espaço da mostra que pode conectar-se com outros participantes pela Internet em qualquer lugar do planeta. A cozinha estará incubando o conceito antropológico de “Cru e Cozido" trabalhado por Levi Strauss: a criação de processos rituais que estabelecem uma dialética daquilo que era um dado “puro" e sem função e que passará até o final do período da mostra assumir diversas dimensões de significado, convergindo intenções dos “cozinheiros". A cozinha também pode ser vista como o espaço onde existe freqüentemente coletividade para a construção daquilo que nos alimenta. Busca-se construir uma metáfora da cozinha como espaço de “alquimia" onde a tal dialética ferve as intenções de coletividade e a fome (ou gula) é um anseio que nos traz de volta a dimensão humana.

A instalação funciona da seguinte maneira:

1. Deve-se utilizar a cozinha do espaço da mostra e montar uma exposição plástica dentro dela, com rascunhos, pinturas, desenhos, esculturas, registros sonoros e audiovisuais, e principalmente objetos do cotidiano de participantes da ação, incluindo organizadores e visitantes da mostra que desejem interagir. Isto deve ser feito sem tentar tornar a cozinha uma “galeria", o foco está em deixar diponíveis os “dados" a serem cozidos. Isto tornará a cozinha um espaço em comum entre os participantes, para encontros informais que tentam trazê-la para uma dimensão de “zona autonôma temporaria" dentro do espaço onde os “dados" serão “fervidos".

2. Simultaneamente ao local da mostra, pretende-se articular estruturas similares em diversas cidades do Brasil: Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Campinas, Belem, Porto Alegre, Recife, Brasilia e Florianópolis e possivelmente outras cidades em locais distintos no mundo. Tal ação será articulada pela internet e seu processo de articulação também faz parte do registro de “dados" a ser reprocessado a cada ação.

3. Desconstruindo a percepção de “lar", faremos música com eletrodomésticos como liquidificadores, batedeiras, aspiradores de pó, abajures, ventiladores; que devem ser pintados como telas brancas e cobertos de escritos com trechos poéticos, desenhos e instruções técnicas para as ações. Os eletrodomésticos devem ser trocados entre os locais distintos e ficarão nas cozinhas. Estes eletrodomésticos poderão ser controlados remotamente via Intenet, por um website.

4. Serão programados rituais de “cozinha" no mesmo horário entre as cidades, considerando fusos, onde participantes preparam comida enquanto a ação é gravada em som e video, desenhada, fotografada, escrita e este registro interage com os outros locais no mesmo instante pela internet recombinando e transformando dados. Esta “realimentação" de dados no espaço da cozinha causa uma sensação de simultaniedade e a cozinha passa tornar-se um local único que vence barreiras geográficas tornando os dados repertórios comuns de construção de realidades. Estas influenciarão ações diretas e relacionamentos entre esta rede. Os processos desencadeados pela “cozinha" também devem ser registrados e reprocessado em novos rituais de cozinha e futuras ações.

5. Tempere a gosto e leve ao forno.

6. Estimula-se o uso rítmico da cozinha, leitura de textos e poemas, musicalização do ato de cozinhar e da refeição. Pede-se o uso de diferentes línguas e sotaques ao fornecer os dados. Depois da refeição deve-se digerir os dados e consumir sua energia em ações diretas pelas ruas.



Última alteração: 09/02/2007 às 17:27, por: glerm