MANIFESTO ESTÚDIO LIVRE
Agosto de 2007


"A estranha fluidez do anarquismo se reflete na sua atitude em relação à organização. Os anarquistas não rejeitam a organização, mas nenhum deles procura dar-lhe uma continuidade artificial. O importante é a sobrevivência da própria atitude libertária." George Woodcock


Basicamente fundamentado no desenvolvimento de mídias livres, o Estúdio Livre chega, três anos após as primeiras pessoas se reunirem em comunidade sob este nome, a um momento crucial na sua existência.

Durante sua trajetória vários foram os parceiros que, sinergizando com os ideais propostos pelo grupo, ajudaram a constituí-lo como uma das maiores referências para pesquisa, desenvolvimento e produção multimídia com ferramentas livres no Brasil.

Dentre todos os parceiros o Ministério da Cultura foi, sem dúvidas, o maior até o momento. Sendo um movimento tão próximo à proposta de trabalho da Ação Cultura Digital do Programa Cultura Viva, rapidamente a idéia foi incorporada ao projeto. O encontro entre o discurso do Ministro Gilberto Gil e a comunidade do Estúdio Livre foi essencial para que hoje o Brasil seja reconhecido como uma das maiores referências mundiais na luta pela quebra de velhos paradigmas relativos à propriedade intelectual, software livre e por uma cultura livre/libertária. Paralelamente, esta parceria também proporcionou um maior contato com as comunidades por todo o país, gerando uma diversidade de material e de opiniões acerca do conceito de mídia livre.

Visando a manutenção, continuidade e ampliação de todo o trabalho realizado até hoje, propomos uma reestruturação conceitual e prática, perante o momento que vivemos.

O momento:

Hoje, dentro da chamada "comunidade" do Estúdio Livre, vivemos uma divergência radical entre seus componentes. Desenvolvimento, manutenção, parcerias, futuro e tecnologias utilizadas, são assuntos que já foram, de alguma forma, consenso e atualmente apenas agravam a distância de caminhos entre pessoas de um grupo que é, majoritariamente, formado por pessoas estão ou já estiveram envolvidas diretamente com a Ação Cultura Digital do MinC, principalmente em seu desenvolvimento, o HackLab?.

Entretanto, o contrato destxs pesquisadores, que tanto desenvolvimento proporcionou para o site do Estúdio Livre, chega a seu fim. E é neste momento que este manifesto pela liberdade do Estúdio Livre surge com um pedido para que tod@s @s envolvidos revejam as origens e pensem em seu futuro como um projeto sem fins lucrativos.

Não estamos fechando as portas aos Pontos de Cultura, tampouco à eventuais financiadores. Mas temos o desejo de ver como o Estúdio Livre caminhando de forma independente e isso significa a ausência de apoio financeiro, como ponto fundamental para colaboradores e colaboradoras. Hoje todo o desenvolvimento é feito pelos pesquisadores contratados pela Cultura Digital/MINC.

É possível que o serviço piore? Talvez. Mas queremos justamente sair da relação de prestadores de serviço e de fato construir uma comunidade de pessoas interessadas na produção de mídias livres.

Vivemos hoje, dentro do Estúdio Livre, uma "sociedade" artificial, na qual alguns problemas são latentes e necessitam ser cuidadosamente trabalhados. As tomadas de decisões do grupo contam com a inércia de muitos, o que, artificialmente, cria uma máscara autoritária. Porém, as formas como algumas decisões são tomadas e a falta de clareza em alguns casos as tornam, às vezes, realmente autoritárias.

A falta de uma gestão colaborativa nos empurra para o labirinto de uma "ditadura revolucionária".

A proposta:

Desejamos que as relações mútuas sejam regidas não por leis, autoridades ou fatores financeiros e mercadológicos, mas por mútua concordância dos interesses.

Sendo assim, como forma de reestruturação deste coletivo, propomos:

1 – Não aceitação de financiamentos em nome da comunidade que mantém o Estúdio Livre, EstudioLivre.org, estudiolivre ou qualquer variação do nome, até que se desenvolvam políticas de distribuição e descentralização das verbas adquridas em nome do coletivo;

2 – Total ausência de parcerias que envolvam a comunidade que mantém o Estúdio Livre, EstudioLivre.org, estudiolivre ou qualquer variação do nome, até que seja desenvolvido um processo gestor de parcerias;

3 – A criação de uma lista de conselho editorial focada em afinar o conceito de mídias livres e aberta à participação das pessoas que estiverem interessadas na manutenção do conteúdo do portal de forma voluntária e autônoma, com moderação atenta à participações:
3.1 - O processo de ingresso se dará através de um email de apresentação enviado à lista pelx interessadx, que será inicialmente moderado;
3.2 - A diversidade de opiniões é bem vinda desde que solidamente argumentada e defendida com maturidade e bom senso;
3.3 - A permanência nesta lista exigirá participação ativa, boa conduta, clareza e ética. Quem descumprir estas condições terá suas ações, ou a ausência delas, questionadas pelo grupo e, eventualmente, poderá até ser convidadx a se retirar;

4 – Manutenção da atual lista de discussão voltada para o debate sobre a produção multimídia em software livre, com moderação atenta para flames e spams;

5 – Que a pauta principal do próximo encontro presencial da comunidade seja focada no início destes processos acima citados.

questoes para o encontro


Assinam este manifesto (em ordem alfabética):

Adriana Veloso
Arli Pacheco
Fabianne Balvedi
Felipe Machado
flavio
Giuliano Bonorandi
Jean Habib
Lu Tognon
Marcelo Soares Souza
Ricardo Brazileiro
Ricardo Ruiz
Richardson Pontone
Tiago Bugarin
Wille Marcel


(quer assinar também? coloque seu nome)


Última alteração: 05/09/2007 às 15:49, por: flavio