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PANORAMA

Linguagem é um instrumento de registro e reprodução. Usamos linguagens para representar eventos na forma de códigos e então usar essa representação para dar conhecimento desses eventos, mesmo que ocorridos apenas em pensamento, em um tempo futuro ou em um lugar distante.
Daquilo que percebemos e somos motivados a comunicar, abstraímos características que, em contexto, nos interessam. São as formas de variação naquilo que se apresenta aos sentidos que caracterizam primariamente os fenômenos que percebemos. Por exemplo, da multitude de imagens, em princípio caótica, que desfilam ao nosso olhar, podemos ver linhas, pontos ou composições de linhas e pontos delimitando regiões coloridas, antes de percebemos qualquer nexo nas formas do ambiente. Se não houvesse variação, tudo seria plano, uniforme, monocromático, monotônico. Só percebemos alguma coisa quando há uma variação nessa uniformidade espacial. Quando um padrão de variação é recorrente, por exemplo, um círculo ou um triângulo equilátero e, principalmente, nos serve para algum uso, normalmente damos nome à forma percebida. A linguagem falada surge então para descrever os fenômenos que ocorrem. É formada sobre um conjunto de códigos, que são as palavras. Palavras são associadas a padrões recorrentes de formas. Formas não são atributos apenas de fenômenos espaciais. A palavra falada ou mesmo a frase musical são variações padronizadas de percepção temporal. Aromas característicos, impressões táteis, variações em qualquer dos sentidos podem também compor linguagens, isto é, comunicar fenômenos de forma organizada deliberadamente.
É curioso observar que em determinada cultura, as palavras mais usadas indicam os fenômenos mais recorrentes e são os códigos mais simples (ou curtos, no caso da palavra falada ou escrita). Por exemplo, em muitas sociedades é bastante usual que seus membros concordem ou discordem de assuntos comuns. Tão usual que, na maioria das culturas atuais, as palavras equivalentes a “sim” e “não” são muito curtas em relação às outras da língua. Já para situações mais raras, por exemplo, doenças, os nomes tendem a serem maiores. Para situações raríssimas, muitas vezes nem existem vocábulos, usando-se então palavras compostas. O que é interessante nessa observação é que se um povo tiver que dar nome a cada fenômeno potencialmente perceptível em sua cultura, sua linguagem seria impraticável. Por outro lado, se o povo tem poucas palavras, poder-se-ia imaginar certa pobreza de percepção. Isso é válido para códigos formalmente bem definidos, como palavras escritas com um conjunto finito de letras. Pode haver grande riqueza quando se varia a entonação segundo indicação emocional para cada situação onde uma mesma palavra ocorre, isto é, uma mesma palavra pronunciada com entonações diferentes ou escrita com tipologias diferentes, teriam significados diferentes.
Se podemos traçar especificidades para linguagem falada, linguagem escrita ou mesmo outras linguagens dependentes de percepções sensoriais, como tato, olfato, etc. é natural que imaginemos que linguagens podem ser adequadas a meios fisiológicos. A cada meio fisiológico podem ser atribuídos sistemas dimensionais. Para a visão, podemos lançar mão de sistemas que consideram altura, largura e profundidade. Para a audição, o tempo é uma dimensão fundamental. Menos conhecidos formalmente são as dimensões para outros órgãos sensoriais, embora possamos falar sobre notas de aroma, tipos de sabor, texturas, etc. O importante é notar que quando falamos em dimensão, procuramos um meio para expressar uma variação e daí identificar, pelo padrão de variação, uma forma que seja significativa para a ação humana.
Uma das características do ser humano é a mediação consciente (ou a sua possibilidade) que ele faz entre aquilo que percebe e como ele usa o que percebeu para agir.
Sendo o ser humano um ser social, sua ação tem, obviamente, consequências sociais. Além disso, as interações sociais são mediadas por símbolos. Sendo assim, é erigida uma “visão de mundo” a partir da experiência do povo que constitui uma cultura e essa visão é comunicada por uma ou várias linguagens.
A visão de mundo é um tecido tramado com o encadeamento de experiências, ao qual atribuímos nexo, e chamamos de narrativa.

tags: linguagem, narrativa, epistemologia

enviada por: steixeiradecarvalho em: 11:12 - 04/09    |    permalink    |    0 comentários    |    comentar