Agora vou contar como a Odisséia da grande transformação ocorreu. Aqueles homens e seu capitão orgulhoso de sua estratégia enfrentaram momentos de um mar raivoso e o inevitável silêncio das Sereias.

Elas estavam em toda parte mas não gastariam nem um grave ou agudo com aqueles ladinos. Uma delas, ao avistar o barco foi para águas mais profundas. Levada por uma corrente tsunamita, penetrou a brecha da Terra com toda sua curiosidade, enquanto na superfície a tormenta ocorria.

Ali encontrou fósseis e outros sinais de seus antepassados. Formatos, desenhos, a Terra, um Ovo, extremamente intrigante até que uma corrente fria, estranha, veio carregada de um óleo espesso.

Inerte ela observava a água cada vez mais escura invadindo sua água límpida, cristalina, causando um desconforto nos sentidos. Algo nunca sentido. Sua pele, seus cabelos, suas escamas, barbatanas, todas manchadas, entupidas...

Quase não sentiu o desmaio. Foi tomada daquela cor que lhe lembrava algo do céu em dias de lua aparente.

Seu corpo, carregado por sucessivas correntes levava choques, batia em resquícios de um outro mundo que respirava pólvora.

Ainda desacordada, seu corpo foi boiando numa estranha calmaria até ser arrastado por uma onda para a areia de uma praia.

Ela, jogada de bruços. suas escamas, seios e cabelos continham óleo. A temperatura alta do ambiente fazia seu corpo mudar de cor. Os cabelos e algas cobriam seu rosto quando seu corpo começou a tremer como ocorre a todo peixe fora d'água. A parte superior do seu corpo lembrava o de algumas espécies daquele lugar.

Em ânsia de vômito ela se apoiou nos antebraços e suas convulsões ejetaram um líquido brilhante, espesso, que se chamava Mercúrio. Por um rápido instante, lembrei de Medéia de Callas quando ela abriu de súbito, os olhos.

Ali, como Narciso, viu seu reflexo na massa de Mercúrio. Ela apenas aparentava atordoamento que cobria assim como parte dos cabelos, sua beleza como uma camada de nuvem fria.

Ela se mexia tentando se apoiar não somente nas mãos, mas também em sua cauda. Estranhamente as escamas foram desaparecendo.

Apenas as andorinhas puderam ver a distância sua transmutação. Ela então se ajoelhava e finalmente, de pé, tão rápido, como no processo de macaco a homem, ela era agora uma mulher.

Seus pés eram vistos pelo mar que dela se afastava, um passo atrás do outro até entrar num território de grama verde....

(continua...)